ATA DA QUINTA SESSÃO SOLENE DA QUARTA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA PRIMEIRA LEGISLATURA, EM 30.04.1996.

 

 


Aos trinta dias do mês de abril do ano de mil novecentos e noventa e seis reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quinze horas e trinta e oito minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão destinada à entrega do Título de Cidadã de Porto Alegre à Professora, Escritora e Teatróloga Olga Reverbel, nos termos do Requerimento no 1130/94 (Processo no 2279/94), de autoria da Vera. Maria do Rosário e aprovado pela Casa Compuseram a Mesa: o Ver. Isaac Ainhorn, Presidente da Casa, a Senhora Olga Garcia Reverbel, homenageada, o Senhor Luiz Augusto Fischer, Secretário de Cultura e representante do Senhor Prefeito Municipal neste ato, o Desembargador Tupinambá do Nascimento, representante do Tribunal de Justiça do Estado, o Tenente-Coronel Otomar Koning, representando o Comando Geral da Brigada Militar e o Senhor Carlos Reverbel, marido da homenageada. A seguir, o Senhor Presidente disse da honra que é Ter na Casa a Senhora Olga Reverbel para a presente homenagem, destacando a respeitabilidade de que goza a Oficina de Teatro Olga Reverbel no meio das artes cênicas de nosso Estado. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Senhores Vereadores para que se manifestassem em nome das Bancadas. A Vera. Maria do Rosário, como proponente e em nome das Bancadas do PT, PDT e PST saudou a homenageada por sua trajetória em prol da cultura em nosso Estado, especialmente das artes cênicas, desejando continuidade no êxito de seus trabalhos e projetos. O Ver. Reginaldo Pujol, Bancadas do PFL, PPB e PTB, destacou importância desta Casa homenagear uma teatróloga da envergadura de Olga Reverbel, congratulando-se com Sua Senhoria pela contribuição que vem prestando à cultura de nosso Estado. O Ver. Lauro Hagemann, em nome das Bancadas do PPS, PSDB e PMDB ressaltou os mais de cinqüenta anos de atividade da teatróloga e escritora Olga Reverbel dedicados à promoção da cultura em nosso Estado, reiterando a justeza da presente outorga. A  seguir, o Senhor Presidente convidou o Senhor Carlos Reverbel e a Vera. Maria do Rosário a realizarem a entrega da Medalha e do Diploma alusivos ao Título Honorifíco de Cidadã de Porto Alegre. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra à Senhora Olga Reverbel, que agradeceu a todos à presente homenagem dizendo do amor que nutre por Porto Alegre. Às dezesseis horas e vinte minutos, nada mais havendo a tratar, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e declarou encerrados os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para uma Sessão Solene a seguir e para a Sessão Ordinária da próxima Sexta-feira, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Isaac Ainhorn e secretariados pela Vera. Maria do Rosário, como Secretária “ad hoc”. Do que eu Maria do Rosário, Secretária “ad hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos e aprovada, será assinada pelos Senhores 1o Secretário e Presidente.

 

 

 


O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): Abrimos esta Sessão Solene para a entrega do Título Honorífico de Cidadã de Porto Alegre à professora, escritora e teatróloga Olga Reverbel, numa iniciativa da Vera. Maria do Rosário, que teve aprovação unânime desta Casa, de seus 33 Vereadores.

Convidamos o Prof. Luiz Augusto Fischer, Secretário Municipal de Cultura, que nesta oportunidade representa a S. Exa. o Sr. Prefeito Municipal, Dr. Tarso Genro; o Desembargador Tupinambá Nascimento, que representa o Tribunal de Justiça do Estado; o Tenete-Coronel Otomar Koning, representando o Comando da Brigada Militar.

Registramos com muita satisfação a presença do Professor Carlos Reverbel, que honra esta Casa mais uma vez com sua presença.

No dia de hoje, nesta Sessão Solene, registramos com satisfação a outorga do Título de Cidadã de Porto Alegre à professora, escritora e teatróloga Olga Garcia Reverbel. Se não fosse outras qualificações de já ser há muito, de fato, cidadã de Porto Alegre, tem uma outra qualidade, a juízo pessoal deste Presidente, de ser também uma ilustre são-borjense, tendo passado também por Santana do Livramento e Uruguaiana. Para a tristeza do Ver. Reginaldo Pujol, não esteve em Quaraí. Hoje possui a mais respeitada escola de teatro do Rio Grande do Sul. A Oficina de Teatro de Olga Reverbel possui atualmente cerca de duzentos alunos, e só esse fato, por si só, e pelo seu talento e pelo que faz pela cultura, arte e teatro de Porto Alegre e de nosso País, já mereceria todas as homenagens desta Casa e o reconhecimento da sociedade porto-alegrense. Todas essas razões, com certeza, motivam a Vera. Maria do Rosário a ingressar com este título e a ter o reconhecimento da representação política e popular desta Cidade, através da Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Com muita honra, portanto, nós presidimos a Sessão de hoje em que, formalmente, se outorga o Título de Cidadã de Porto Alegre à Olga Reverbel.

Com a palavra a Vera. Maria do Rosário, na condição de proponente e também falando pelas Bancadas do PT, PDT e PST.

 

A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: (Saúde os componentes da Mesa e demais presentes.)

(Lê.)

“A árvore no outono, tão linda com suas cores brilhantes, nos emociona até as lágrimas. A música é tão bela que nos carrega de tristeza. Vem-nos então à mente o pensamento covarde que melhor seria talvez não termos visto a árvore, melhor seria talvez não termos ouvido a música.

No entanto esta é a condição humana. Não vendo a árvore ou mesmo não ouvindo a música, precisamos enfrentar esse incômodo paradoxo – saber que o tempo levará de nós a luz que brilha em nosso corpo. Mas é de corpo e alma que somos feitos.

Não se pode dizer que o calor e luz não existam sob a forma de um paradoxo. Se exibir a luz é deter o brilho, e se emanar o calor é dividir o corpo, o teatro é feito para sujeitos da verdade e da coragem.

Olga Garcia Reverbel nasceu em São Borja em 1917, Professora de teatro, escritora e teatróloga, foi pioneira do ensino do teatro no Rio Grande do Sul Olga começou a lecionar aos 17 anos em Santana do Livramento e sua ligação com o teatro se deu sempre parcialmente através do ensino. Lecionou por mais de 20 anos no Instituto de Educação onde criou a disciplina de teatro-educação e fundou o revolucionário Tipie (Teatro Infantil Permanente do Instituto), um grupo de alunos que encenava peças infantis e que chegava a reunir mais de 500 crianças em cada apresentação. Em 1985 a Universidade de São Paulo lhe concedeu uma homenagem pelo pioneirismo de criar o teatro na educação. Para Olga tratava-se antes de tudo do prazer de ver as crianças e os adolescentes conquistarem mais liberdade de expressão e, como não poderia deixar de ser, afirmaram-se na cidadania pela cultura.

Em 1987, ao completar 53 anos de profissão, Olga decidiu ter sua própria oficina de teatro. Com a ajuda de amigos fundou uma escola de teatro que tem hoje 200 alunos, dos 6 aos 65 anos, e é uma das mais importantes do Estado. Portadora de grande capacidade humana, essa faculdade antiga como o mundo, de se insurgir, mulheres como Olga têm a vocação para mostrar ao outro o processo de criação contrário a tudo que é mundano, apático e convencional, criando a consciência sempre renovada do homem. Aos 11 anos Olga considerou-se pronta para escrever o primeiro romance: A Primeira Ilusão ou a Filha do Jardineiro escandalizou em sua primeira leitura com uma trama de amantes secretos e encontros furtivos. Olga escreveu depois nove livros sobre teatro nos anos seguintes.

A coragem de Olga é uma coragem social. Entre o brilho e o calor ela escolheu o simples. A simplicidade que divide conhecimento, consciência e responsabilidade como poucos. Muitas vezes nós, pobres mortais, não temos a capacidade de amar e dividir. É preciso que nos perguntemos quantos de nós servimos com nossos ensinamentos para elevar o nível ético e espiritual das sociedades em que vivemos e das sociedades futuras. Seja qual for nossa atividade, é preciso que estejamos contribuindo para a estruturação de um mundo novo. O trabalho de Olga como professora de teatro, teatróloga e escritora tem sido, antes de tudo, um imenso serviço à sensibilidade humana.

O homem que se fez homem pelo trabalho criou uma arte entre a respiração e a consciência para que pudesse ter um espaço para escolha. E vemos o teatro.

Fernanda Montenegro disse cera vez: “Percorrendo assim os séculos e os espírito, imitando o homem tal como ele pode ser e tal como é, o ator confunde-se com outra figura absurda: o viajante. E como viajante, o ator esgota alguma coisa que percorre sem cessar. Ele é o viajante do tempo e, se é um grande ator, torna-se o ansioso viajante das almas”. E continua dizendo: “quanto mais estreito é o limite que lhe é dado para criar sua personagem, tanto mais necessário que ele tenha talento. Afinal ele vai morrer dentro de duas ou três horas sob um rosto que não é o seu. É preciso que nestas duas ou três horas ele sinta e exprima todo um destino excepcional – isto tem um nome certo: é perder-se para se encontrar. Nestas duas ou três horas ele vai até “o fim do caminho sem saída” que o homem da platéia gasta a vida toda a percorrer”.

E como a água empurra para a superfície a síntese de sua forma, expressa numa planaridade sobre a qual poderíamos quem sabe caminhar, o mestre empurra para fora do corpo a essência do espírito Professora de teatro, Olga Reverbel, mais do que ninguém, sabe que as fronteiras, sejam elas ilusórias ou verdadeiras, são na verdade o produto de um desejo. É o desejo que vem da carne transformado num sopro que o teatro se encarrega de fazer existir.

“Rindo, chorando, vibrando de entusiasmo ou sofrendo o impacto do terror, os cidadãos comprimiam-se na praça do velho mercado de Atenas, a mais importante cidade-Estado da Grécia no século VI a. C. Contra a vontade de Sólo, tirano e legislador eficaz mas nem sempre dedicado às sutilezas da sensibilidade, o povo preferiu acreditar em cada gesto de Téspis – um homem estranho, que ousava imitar os deuses e os homens. Grossa túnica nos ombros e tosca máscara sobre o rosto, Téspis desceu solene e grave os degraus do altar que improvisara sobre uma carroça. E sem esperar que os circundantes se refizessem do inesperado, afirmou: “Eu sou Dionísio”. Foi um sacrilégio e surpreendente momento das festas que a tradição reservara ao deus da alegria; foi também o instante em que, pela primeira vez, um obscuro e arrogante grego se fez aceitar como deus de carne e osso pelos atenienses do mercado. E foi o começo de uma aventura espiritual que atravessaria os séculos, mesclando a imagem do próprio homem, verdade e fantasia, riso e lágrimas: o nascimento do teatro”.

 

(Não revisto pelo oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Reginaldo Pujol fala em nome do PFL e do PTB, em nome dos Vereadores João Dib e Pedro Américo Leal, impossibilitados de estarem aqui, neste momento.

 

O SR. REGINALDO PUJOL: Esmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver. Isaac Ainhorn; Caríssima Sra. Professora Olga Garcia Reverbel, que engalana a partir de hoje a galeria das cidadãs de Porto Alegre, permitindo-me a suprema ventura de tê-la entre as suas mais legítimas integrantes; Caro Sr. Representante do Sr. Prefeito Municipal, Dr. Luiz Augusto Fischer, Mui Digno Secretário Municipal da Cultura; Digníssimo Sr. Representante do Tribunal de Justiça do Estado, Desembargador Tupinambá Nascimento; Digníssimo Sr. Representante do Comando-Geral da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, Tenente-Coronel Otomar José Koning.

O esforço realizado no momento da leitura dos nomes dos nossos convidados, Profa. Olga, já mostra que a vista está curta, que o tempo já passa e que, passando, produz seus efeitos. Aliás, quando assumo à tribuna com o privilégio de falar, não só em nome da minha representação política, mas também em nome dos ilustres representantes da Bancada do Partido Progressista Brasileiro, Ver. João Antônio Dib e Ver. Pedro Américo Leal, agrego a circunstância extremamente feliz de que da mesma forma o Ver. Luiz Braz, do Partido Trabalhista Brasileiro, me dá esta honra extremamente gratificante de poder, nesta Sessão, cara colega Maria do Rosário, me manifestar com a alegria e com a satisfação de ver que a Casa do Povo de Porto Alegre, nesta hora, ao integrá-la, Profa. Olga, no rol da galeria de suas Cidadãs, consegue, num só instante, mexer com algumas coisas que existem de muito forte em nossa Capital e que dizem respeito a um tempo que, embora passado, ainda é presente para todos nós.

Entre os fatos positivos da minha vida, tenho a circunstância de ser filho de uma mulher nascida no interior de Quaraí. O Prof. Reverbel não se surpreenderá se eu falar do Cerro do Marco, do Pai Passo. Além desse mulher – minha mãe – outra veio-se juntar a mim. Tem sido companheira constante nas minhas atribuladas caminhadas: minha mulher, Maria Regina, sua ex-aluna, que me pede que eu lhe transmita um abraço e um beijo. Faço-o com grande alegria, pois, ao ver o pronunciamento da Vera. Maria do Rosário, belo, eloqüente, vi que ela não disfarça a admiração de ex-aluna, que nos marca profundamente quando vemos que o correr dos tempos faz com que aqueles ídolos que formamos na nossa juventude, na nossa adolescência, tenham o reconhecimento público, como a senhora tem tido a oportunidade de ter em inúmeras situações, e que agora o Legislativo de Porto Alegre, por unanimidade, o faz, integrando-a nesse rol de homenageados, numa integração até “sui generis”, porque não sei, Vera. Maria do Rosário, na medida em que V. Exa. foi à autora dessa Lei, se permitiu homenagear a Professora ou se ela está homenageando a Cidade nos permitindo incluí-la no rol dos nossos homenageados.

Por isso, Profa. Olga, eu, com a tranqüilidade, havia antecipadamente avisado a autora que não lhe concederia o direito de também em seu nome se manifestar nesta hora, não que lhe faltasse mérito ou brilho, porque sobre isso a senhora teve uma prova inconteste de que o seu trabalho, com a sua ex-aluna, prosperou, e muito, dado o brilho do pronunciamento da Vera. Maria do Rosário. É que nós, da fronteira, nessa hora, precisamos ser muito solidários, pois temos uma pretensão escondida, não revelada, mas acreditamos que um dia aqueles valores que a campina larga, aquela terra sem horizontes, nos propiciou  reflexionar, na nossa infância e adolescência, ainda vão-se incrementar em todo este Estado tão multifacetado, com as suas várias regiões, mas que tem, no fundo, aquele culto, aquelas coisa lindas que a reflexão do Pampa possibilitou aos seres que, iluminados por Deus, puderam desenvolver na cultura e criar os alicerces básicos dessa verdadeira cultura continental, que representam as tradições do Continente de São Pedro.

Profa. Olga, a senhora, como educadora, como teatróloga, como escritora que tanto contribuiu para este nosso Estado, não poderia receber o título de Cidadã de Porto Alegre sem que um atrevido moleque do Quaraí viesse apresentar-se genuflexo a sua presença, lhe dizendo do seu respeito, do seu carinho e, sobretudo, do seu reconhecimento pelo que tem feito por tantas gerações do Rio Grande, inoculando nelas a cultura, o saber e, sobretudo, a sensibilidade. Muito obrigado, Profa. Olga. Muito obrigado em meu nome, em nome da minha família e, principalmente, em nome desta Cidade, que se orgulha em tê-la, agora, como sua cidadã. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: O Ver. Lauro Hagemann está com a palavra, e falará em nome do seu Partido, o PPS, da Bancada do PSDB e também do PMDB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Saúda os componentes da Mesa.) Vereadores, Senhoras e Senhores. Quando me dei conta hoje, pela manhã, que hoje era o dia de homenagearmos a Professora Olga Reverbal, fiquei matutando se deveria fazer um longo um discurso ou se pronunciaria apenas algumas breves palavras de agradecimento. Agora, vejo-me na condição de representante não só do meu Partido, mas também do PSDB e do PMDB, e isso modifica o rumo do discurso. São dessas coisas que acontecem para a gente e que já devem ter acontecido para a Senhora muitas vezes na vida. E a sua condição de teatróloga lhe tirou da enrascada. É nessa condição meio de teatrólogo que eu também pretendo sair da enrascada em que me meteram os companheiros do PMDB e do PSDB, até porque todos me merecem a maior consideração. E num ato como este, em que se homenageia uma figura tão conhecida, tão exaltada, que outras palavras eu não teria a acrescentar àquelas que já foram ditas? Mais de 50 anos de atividade no magistério, no teatro, no campo das letras, da cultura, fazem de Olga Reverbal um símbolo desta Cidade. Então, não há muito mais o que dizer sobre a personalidade da nossa homenageada, sobre as suas virtudes, a não ser que ela tem mantido, ao longo de todos esses anos, ao lado do seu velho companheiro Carlos Reverbal, nosso colega jornalista, uma vida intensa, dedicada toda ela a esta Cidade, que hoje, num gesto patrocinado pela Vera. Maria do Rosário, lhe agradece a atuação no nosso meio e, de forma muita singela, retribui com a concessão do título de Cidadã de Porto Alegre. Esse título é apenas uma formalização, que cidadã de Porto Alegre a Olga já é há mis de 50 anos, como muitos de nós já o somos, mas ela recebe hoje a confirmação, por escrito e institucional, desse título que lhe devemos, e é para isso que estamos aqui. O trabalho pedagógico de Olga Reverbel se exercita num plano excepcional, que é o teatro, uma coisa tão antiga como o mundo. Porque o que é o homem sobre a face da terra senão um ator permanente? Apenas nós metodizamos, e a Olga Reverbel sabe muito bem como se faz isso. Essa atuação, todas as peças teatrais, todas as representações teatrais são nada mais, nada menos do que a expressão da vida do homem nos seus mais variados aspecto. Isso é teatro, a tragédia, a comédia, é a vida humana apresentada num retângulo, num proscênio em que todos nós nos vemos, em que todos nós nos miramos e estamos ali assistindo o nosso trabalho, o nosso drama.

Não vou teorizar sobre teatro, porque nós temos muitas coisas a fazer, e a Olga Reverbel e o Carlos Reverbel ainda têm longos anos pela frente para nos darem muito ainda, da sua atividade. E é isso o que a Casa deseja. A Câmara de Porto Alegre não fez mais do que a sua obrigação reconhecendo Olga Reverbel como Cidadã de Porto Alegre. E é isso que estamos lhe entregando com todo prazer, com a maior alegria e com a perspectiva de tê-la, ainda, por muito tempo entre os cidadãos vivos de Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Neste momento, convidaria o Professor Reverbel para entregar a medalha à nossa homenageada Olga Reverbel.

 

(Procede-se à entrega da medalha.) (Palmas.)

 

Convido, também, a Vera. Maria do Rosário para entregar o diploma à nossa homenageada.

 

(Procede-se à entrega do diploma.) (Palmas.)

 

Professora Olga Reverbel, receba este livro, que será lançado no dia 2 de maio, aqui, na Câmara Municipal, que é o relançamento do livro do Luiz Coronel e Luiz de Miranda, “Porto Alegre à Beira do Rio e em Meu Coração”. É a edição comemorativa aos dez anos da nova sede desta Câmara. Tu és a primeira pessoa, formalmente, a receber este livro.

(Procede-se à entrega do livro.) (Palmas.)

 

Temos, também, dentre os Vereadores já referidos, o Ver. Milton Zunazzi que se faz também presente neste Plenário. Registramos a presença do Assessor de Projetos Especiais da Secretaria Estadual de Educação, representando a Sra. Secretária de Educação, o Sr. Paulo Mauro da Silva; o representante da Associação Rio-Grandense de Imprensa, nosso fraternal amigo Firmino Sá Brito; a Sra. Paulina Knijinik, representando o Instituto de Educação.

Com a palavra a nossa homenageada.

 

A SRA. OLGA REVERBEL: Antes de dizer todas aquelas coisas formais, queria agradecer essa “guria”. Maria do Rosário, que diz coisas muito bonitas – eu não sabia que tu eras poeta – e esses dois “guris”, um do Quaraí e um de Porto Alegre, e o outro “guri” que está de Presidente aqui, que é meu amigo.

Senhor Presidente da Câmara, Srs. Vereadores, Sra. Vera. Maria do Rosário, minha estrela guia, autoridades, meu marido, minha filha, meu genro, meus netos representados pela Juliana, meus amigos, minhas amigas, meus senhores e senhoras e meus alunos crescidos, que estão aqui representando a Oficina, e o Mauro que está até representando a Secretária da Cultura.

Senti uma profunda alegria e uma profunda surpresa quando a minha estrela guia me comunicou que eu seria Cidadã de Porto Alegre. Confesse que eu amo surpresa. Não há nada mais lindo na vida do que ser surpreendida e para mim, apesar dos meus longos 78 anos, esta surpresa foi magnífica, e eu quero te agradecer, guria. Agora, a surpresa, para mim, é a prova essencial de que estou viva, de que estamos vivos. Portanto, mantenho esta expectativa: espere uma surpresa, sempre! No momento que soube que seria Cidadã de Porto Alegre andei pelas ruas e percebi no olhar dos passantes que eu era sua novíssima companheira de trânsito por esta cidade verde, esta cidade tão bonita. Ao mesmo tempo passei a me considerar proprietária de um milionésimo-avo do pôr-do-sol de Porto Alegre e deste rio Guaíba que tem apelido de lago. As razões que embasaram a Maria do Rosário para me indicar como Cidadã de Porto Alegre, que eu sou professora de teatro, escritora e teatróloga, são fracas, minha filha, porque professora é uma obrigação que todos nós professores temos com as crianças, os adolescentes e os adultos, sobretudo eu, com toda esta gente gaúcha. Teatróloga está implícita, louca de medo. Teatróloga é um termo que eu até nem usaria, e escritora, outra obrigação. Eu já escrevi 18 livros sobre teatro, livros didáticos, teatro e educação que são para as minhas colegas, professores e professoras usarem, inclusive com todo o direito de modificar. Aos 70 anos, escrevi um romance, que está nas mãos da Fernando Veríssimo. A Fernanda está querendo empurrá-lo para a LPM, onde ela trabalha. Espero que, com este título, eu ganhe a publicação do romance.

Agradecer é pouco, mas não há outra palavra. Obrigada, obrigada, obrigada. Deram-me este título e eu, que era uma mulher pobre, infeliz, cheia de empréstimos, subitamente passei a ser proprietária do pôr-do-sol de Porto Alegre e do Rio Guaíba, apesar de ser apenas de um milionésimo-avo, mas isso é riqueza.

Sou uma mulher de três fronteiras. Nasci em São Borja – terra de Getúlio, a quem muito quero – depois fui-me criar em Uruguaiana – outra fronteira – e, finalmente, fui para Santana do Livramento – outra fronteira. Sou mulher de três fronteiras, gaúcha, não tenho medo de nada – quer dizer, não tenho medo de almas, mas de baratas sim. Vim para Porto Alegre num trem “Maria Fumaça”, e quem me trouxe foi o Érico e a Mafalda Veríssimo. Meu avô, quando me entregou a eles, pediu que o Érico cuidasse de mim. E eu já estava velha, casada há anos com o Reverbel, e o Érico me dizia: “Olga, te comporta, porque sou responsável por ti. Prometi ao velho Pedruca”.

Quando cheguei em Porto Alegre, senti uma profunda admiração por esta terra. Eu nunca havia visto uma capital e nem havia andado numa “Maria Fumaça”. Achei esta Cidade maravilhosa. Tanto que, depois de anos, quando fui com o Reverbel a Paris, onde passamos uma longa temporada quando vi Paris pela primeira vez, é claro que achei linda, mas não achei mais linda que Porto Alegre, porque aquela sensação que se tem de ver uma capital pela primeira vez não passa. Depois conheci outras cidades da Europa, mas não é a mesma coisa. Para mim é Porto Alegre. Então, agora, pessoal, muito obrigada. Aqui está uma cidadã, velha, gorda, feliz, muito feliz, sempre feliz. Obrigada.

 

(Não revisto pela oradora.)

 

O SR. PRESIDENTE: Depois dessas palavras da Olga, a gente pode dizer, nesta Casa, que os Anais vão registrar isso na sua história, para a história da Cidade. Foi uma Sessão muito comovente, muito bonita, de reminiscências, de lembranças, de vida presente e, também, de vida futura. É o que poderíamos dizer, Prof. Tupinambá, uma lição de vida. Muito obrigado a todos.

Está encerrada a Sessão.

 

(Encerra-se a Sessão às 16h20min.)

 

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